domingo, 24 de abril de 2016

DE VOLTA AO PASSADO

POLíTICA ARNALDO FERREIRA - REPÓRTER

Novo governo deve penalizar região Nordeste

IMPEACHMENT. Economista Cícero Péricles teme que programas sociais sejam afetados


Se a presidente Dilma Rousseff permanecer no governo por decisão da Câmara dos Deputados, ela terá de construir um novo pacto para garantir a governabilidade econômica. Se o impeachment passar e assumir o vice-presidente Michel Temer (PMDB/SP), ele terá de elaborar novo modelo de governo com novo plano econômico tendo os partido opositores como o PSDB e o DEM como protagonistas, e o PT e outros partidos de esquerda como a nova oposição. Esta é a avaliação de um dos mais importantes economistas de Alagoas, doutor e professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Cícero Péricles.

O Nordeste poderá sofrer consequências nas duas alternativas de governo. Péricles lembrou que a região foi a mais beneficiada no período Lula (2003-2010) e no primeiro governo Dilma (2011-2014), pelos investimentos em infraestrutura, pelas políticas de desenvolvimento econômico, principalmente as voltadas para o empresariado de pequeno porte, pelas políticas sociais permanentes, como saúde e educação e pelas políticas de transferência de renda, como a previdência e o Bolsa Família.

“Todas as políticas e programas federais tiveram impacto maior no Nordeste, desde a recuperação do poder de compra do salário mínimo ao programa de interiorização do ensino superior. Uma mudança de governo, principalmente se contemplar as críticas e demandas dos grupos econômicos e políticos do Sul e Sudeste, diminuirá, em muito, esse tratamento”, acredita o professor.

“Se ficar Dilma, todos os programas sociais serão mantidos e, talvez, ampliados, porque a lógica do governo é a do crescimento econômico com inclusão social, uma visão política e um programa desde o primeiro mandato de Lula; se mudar, com Temer ou outro presidente apoiado pela oposição atual, teremos, com certeza, uma reavaliação destes programas e políticas, um desmonte do legado “lulista”, que sempre foi uma bandeira oposicionista.



Cícero Péricles destacou que já está sendo anunciada a reforma da previdência social, uma nova política para a Petrobras e para o pré-sal; uma reforma trabalhista para rever direitos sociais e uma nova visão dos programas sociais, mais focada, menos universalista. E isso será muito sentido nas economias de sociedades mais pobres, como a de Alagoas. Para as economias mais desenvolvidas, como as do Sul e Sudeste, essas iniciativas poderão ser bem acolhidas junto ao meio empresarial, principalmente o industrial e o financeiro, mas, no Nordeste, e, especialmente, em Alagoas, os efeitos serão negativos ou, pelo menos, menos interessantes que os que assistimos nestes últimos anos.

“Desde o ano passado os efeitos na economia nordestina são muito parecidos com os nacionais: falta de investimentos produtivos, na medida em que os empresários estão inseguros diante do quadro político”, disse o professor da Ufal, ao acrescentar que o desemprego está sendo ampliado numa região pobre que afeta segmentos sem muita capacidade de defesa, mais a inflação alta que penaliza os segmentos mais pobres dos assalariados. “No entanto, temos uma característica que dificulta particularmente a vida dos nordestinos, que é o menor volume de transferências de recursos federais, tanto os destinados ao setor público, como FPE e FPM, menor volume nos investimentos em obras públicas e nas transferências voluntárias; assim como os recursos para as políticas públicas que ajudaram a dar um novo perfil à sociedade nordestina nestes últimos anos”.

Como a maioria dos pesquisadores da economia afirma, Péricles também atesta que a economia brasileira está sofrendo com a instabilidade política desde o final de 2014. Os possíveis erros de condução da economia no final do primeiro mandato da presidente Dilma foram somados a tensão pós-eleitoral, quando a oposição não aceitou o resultado das urnas, e as denúncias de casos de corrupção, como a Lava Jato. “Ficando Dilma ou entrando Temer, há necessidade de um pacto de governabilidade para que os investimentos voltem, que as expectativas na economia sinalizem algo de positivo, que o Estado brasileiro volte a investir com força e, claro, se estabeleça um novo cenário no qual a arrecadação aumente. Essas são as pré-condições para que Alagoas seja contemplada com mais investimentos nas obras federais que estão paralisadas ou em ritmo lento, que os programas de crescimento sejam acelerados e que possa receber mais transferências, das quais depende para suas políticas públicas e seus investimentos em infraestrutura”.

Segundo Cícero Péricles, a economia de Alagoas obteve dados positivos em todos os anos do governo Lula e no primeiro mandato de Dilma Rousseff, como consequência do clima nacional de crescimento e pelos investimentos realizados aqui no Estado. Essa série de taxas positivas de doze anos deverá ser quebrada quando o IBGE apresentar os dados de 2015, que serão, com certeza, os primeiros resultados negativos de Alagoas desde 2003. 
FONTE: globo.com/gazetadealagoas

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