IBGE explica raiva de Sul e Sudeste contra o Nordeste
"A inversão do desenvolvimento no país se torna gritante na
comparação entre o PIB industrial do Norte e do Sul do país. Enquanto o
primeiro cresceu 1,9 ponto percentual no período de 2001 a 2011, o Sul
perdeu 2,1 pontos", avalia Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania;
"Tudo isso vem acontecendo porque, após a chegada do PT ao poder, em
2003, o Brasil tratou de reparar uma chaga histórica", completa
Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania
Se dependesse das regiões Sul e Sudeste do país, o presidente da
República para o quadriênio 2015 – 2018 seria Aécio Neves. O Brasil
estaria se preparando para inaugurar mais uma República banqueira como
tantas outras que o fizeram chegar ao limiar do século XXI como o quarto
país mais desigual do mundo, perdendo só para países africanos
miseráveis.
O que livrou os brasileiros – inclusive do Sul e do Sudeste – da
escuridão política foi o povo nordestino. O Nordeste, por ser a segunda
região mais populosa do país depois do Sudeste e por ter dado a Dilma
Rousseff apoio ainda mais intenso do que o que o senador tucano teve no
Sudeste, reelegeu a presidente.
O mais interessante nesse processo é que a região dos coronéis de
outrora, que sustentou a ditadura militar nos seus estertores – quando o
resto do país já exigia redemocratização – e que votava nos
conservadores apesar de a vida de seu povo, com a direita no poder,
piorar a cada ano, aprendeu a votar em causa própria.
A eterna prepotência das regiões do resto país que se desenvolveram
mais devido à política e não a méritos próprios, vem gerando surtos de
preconceito contra o Nordeste nas últimas eleições presidenciais, com
destaque para as de 2010 e 2014, quando o Ministério Público teve que
entrar em campo para punir surtos racistas e xenofóbicos.
O caso de São Paulo é pior, em termos de ignorância, preconceito e
xenofobia. O povo paulista, hoje, emula o povo nordestino, que elegia,
reelegia e elegia de novo seus algozes enquanto sua vida piorava. Os
paulistas acabam de conceder o SEXTO mandato de governador ao PSDB
apesar da piora galopante das próprias vidas.
A hegemonia tucana fez com que, de 2001 a 2011, São Paulo se tornasse
o Estado que mais perdeu participação no PIB da indústria brasileira.
Apesar de ainda responder pela maior parte da produção industrial
(33,3%), SP teve recuo de 7,7 pontos percentuais em sua participação no
PIB industrial, onde há os melhores empregos.
Ironicamente, enquanto a falta de água caminha para se tornar
história no Nordeste, sobretudo devido à incrível obra de Transposição
do Rio São Francisco, que, apesar das sabotagens, em breve estará
concluída, no Sudeste, sobretudo em Minas Gerais e SP, a população paga
pela incúria dos governos conservadores dos últimos 12 anos.
A inversão do desenvolvimento no país se torna gritante na comparação
entre o PIB industrial do Norte e do Sul do país. Enquanto o primeiro
cresceu 1,9 ponto percentual no período de 2001 a 2011, o Sul perdeu 2,1
pontos.
Tudo isso vem acontecendo porque, após a chegada do PT ao poder, em
2003, o Brasil tratou de reparar uma chaga histórica. Qual seja, o
processo deliberado de incremento econômico do Sul e do Sudeste em
detrimento do Norte e do Nordeste, que foi política de Estado ao longo
de nossa história, desde o descobrimento.
O que puxava os índices de desenvolvimento do Brasil para baixo
sempre foi o Nordeste, mas só até que Lula chegasse ao poder. Dali em
diante, essa equação começou a se inverter.
Quando os paulistas acusam os nordestinos de terem sido responsáveis
pela reeleição de Dilma por não saberem votar, mostram quanto não sabem
nada sobre o próprio país. Os nordestinos sabem muito bem porque votam
no PT, como mostra a mais nova edição da PNAD contínua, do IBGE.
A nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) produz
informações contínuas sobre a inserção da população no mercado de
trabalho e suas características, tais como idade, sexo e nível de
instrução, permitindo, ainda, o estudo do desenvolvimento socioeconômico
do País através da produção de dados anuais sobre trabalho infantil,
outras formas de trabalho e outros temas permanentes da pesquisa, como
migração, fecundidade etc.
Pois bem: segundo a nova PNAD contínua, divulgada na última
quinta-feira, no período de 12 meses (fechado em junho) o Nordeste
liderou a criação de postos de trabalho no país. De 1,5 milhão de
empregos criados nesse período, 1 milhão foi criado no Nordeste e o
resto pelas demais regiões.
Vejamos, então, quem é que não sabe votar: o povo de São Paulo, que
vota há vinte anos em um governo que liderou a redução da presença de
seu Estado no PIB, que materializa uma inédita escassez de água e que vê
seus problemas sociais se agravarem, ou o povo do Nordeste, que votou
maciçamente em um governo que vem fazendo a vida melhorar tanto na
região?
O PIB nordestino cresce a uma taxa quatro vezes maior que a do resto
do Brasil. Isso ocorre porque, após a chegada de Lula ao poder, o
governo federal vem fazendo o que tem que ser feito no país para acabar
com um nível de desigualdade que mantém os brasileiros no atraso.
Como é que se distribui renda? Antes de distribuir por idade, sexo
etc., a renda começa a ser distribuída geograficamente e, passo a passo,
a atuação governamental vai se sofisticando por idade, gênero etc.
Ou seja: para distribuir renda no Brasil, há que fazer, primeiro, as
regiões mais pobres crescerem mais do que as regiões mais ricas.
Com efeito, se o Norte e o Nordeste fossem um país – como, inclusive,
quer parte do Sul e do Sudeste –, seriam um dos países que mais crescem
no mundo, com o PIB do último ano crescendo mais de 4%.
Infelizmente, só há uma forma de distribuir renda: para alguém
ganhar, alguém tem que perder. Não dá para todos ganharem da mesma forma
se um tem mais e outro tem menos, e o que se quer é justamente maior
igualdade. Assim, o Norte e o Nordeste precisam crescer mais do que o
Sul e o Sudeste mesmo.
Se aqui, no "Sul Maravilha", não fôssemos tão egoístas e alheios à
realidade, entenderíamos que não adianta querermos o desenvolvimento só
para nós – ou mais para nós – porque o povo das regiões empobrecidas
migra para cá, aumenta a demanda por serviços públicos e, mergulhado na
pobreza e no abandono, vê seus filhos caírem na criminalidade.
Com o maior crescimento do Norte e do Nordeste, a migração cai ou
muda de rumo, como tem acontecido – hoje, há cada vez mais nordestinos
voltando à região de origem. Além disso, o Sul e o Sudeste poderão parar
de enviar recursos, via impostos, para combater a miséria extrema nas
regiões mais pobres.
De certa forma, o povo do Sul-Sudeste tem um "motivo" para não gostar
dos quatro governos do PT a partir de 2003. A percepção de que o
desenvolvimento dessas regiões não tem sido grande coisa, não chega a
ser cem por cento errada. Porém, isso ocorre porque está havendo
redistribuição de renda entre regiões, no Brasil.
No atual ritmo de crescimento do Norte e do Nordeste, em mais um
mandato do PT o Brasil terá outra face – mais justa, mais coerente com
um país que não pode ser rico em uma ponta e miserável na outra. E,
ainda que grande parte do povo das regiões preteridas não entenda, ao
fim todos sairemos ganhando com isso.
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